Prefácio

Este livro pode mudar a forma como o leitor encara a doença mental. Pode também mudar a forma como encara a religião e a espiritualidade. Na verdade, este trabalho pode mudar radicalmente a perspectiva como encara a existência e sofrimento humanos. Mesmo que a alteração não seja significativa, se algumas das informações aqui partilhadas levarem o leitor a reflectir um pouco mais sobre alguns dos temas apresentados, então um dos propósitos desta obra foram atingidos.

Há três grandes chaves para a Humanidade progredir no sentido de a pouco e pouco resolver os problemas com que se depara:

  1. Ter a mente aberta para analisar de forma adequada novas informações,
  2. Estar receptiva ao sublinhar de informações já existentes para reavaliar a sua importância, procedendo assim a uma nova e mais cuidada análise, e,
  3. Tanto num caso como noutro, usar de boa vontade e honestidade intelectual, tendo como principais metas o progresso e o bem-estar colectivo, e não a mera satisfação de interesses particulares, ou, procurar a todo o custo alimentar a vaidade ou o apego a opiniões próprias, sem levar em linha de conta os factos e as evidências disponíveis.

Sem estas três atitudes, a leitura deste livro pode significar uma perda de tempo. Esperamos que não.

No Ocidente, durante longos séculos a religião sufocou o avanço da ciência. Actualmente, é a ciência que parece sufocar o progresso espiritual da Humanidade. Por muito avançada que esteja a tecnologia, o Homem parece ter dificuldades em aceitar que não é exclusivamente no exterior (nos outros, no dinheiro, no poder, nas utilidades da tecnologia, etc.), que encontra todas as respostas para satisfazer as suas aspirações interiores de paz e auto-realização.

O exterior tem muita importância. Mas sem o desenvolvimento interior, da sua espiritualidade, o Homem parece não conseguir solucionar o problema do sofrimento e da dor. Não consegue alcançar “aquela” tão almejada “Paz interior”.

 

A maioria dos Seres Humanos da actualidade vive a sua vida num “corre-corre” constante, em permanente busca de equilíbrio, realização, paz e harmonia interior. Uma grande parte, geralmente procura apenas no exterior essa harmonia e realização: nos outros, nos bens materiais, em todo o tipo de situações, percorrendo desejos e apegos que tantas vezes se revelam ilusórios.

Uns esperam ver os filhos “criados”, outros a casa “paga”, outros vivem o seu dia-a-dia na ânsia de ver chegar o dia de ter o carro ou a casa de férias dos seus sonhos, ou, da sua conta bancária atingir determinado patamar, como se fossem viver eternamente neste mundo… Muitos ainda, pensam que quando chegar a idade da reforma, aí sim, vai ser a “tranquilidade e paz absoluta”.

 

Mas a experiência diz que muitas vezes as coisas não são bem assim. Ou mesmo nada assim. Os filhos crescem e abandonam a casa dos pais, a casa é paga e já não existe aquela incómoda despesa no final do mês. E também um dia, chega a reforma…

E para muitos, aquela tão almejada paz afinal não foi alcançada. Fugiram de si próprios toda a vida, e agora, procuram novas “distracções” para continuar a fugir… ou procuram perpetuar as mesmas “distracções”.

 

Para uma parte das pessoas, as perguntas “Quem sou eu?”, “De onde vim?”, “Qual o sentido da existência?”, “O que realmente ando a fazer nesta vida?”, “Para onde vou depois da morte?”, entre outras, nunca são satisfatoriamente respondidas, embora todo o Ser Humano transporte em si mesmo, no seu interior, a aspiração de ver estas e outras questões respondidas.

Pergunta-se a alguém o que faz num supermercado e todos têm respostas: “Vim às compras”, “Venho ver as novidades”… Pergunta-se a alguém o que faz numa livraria, numa discoteca, numa peixaria, num talho, num emprego, num cinema… e todos têm respostas imediatas.

Mas poucos têm respostas satisfatórias e que denotem verdadeira sabedoria, quando se pergunta “Quem é você?”, “O que faz realmente nesta vida?”, “Para que vive?”, “Porque vive?”, “De onde veio e para onde vai?”, “Qual o sentido da existência?” …

 

E assim, observa-se muitos dos que se julgam inteligentes, por vezes até orgulhosamente inteligentes e “sábios”, a descer airosamente do seu pedestal de orgulho ou a ficarem inquietados perante essas questões mais básicas e fundamentais da Vida! Inteligentes heim? Sábios?

 

Muitos Seres Humanos são como o pescador que tem como missão pescar em alto mar, para ganhar o sustento para si e para a sua família, e ainda, dar o seu contributo para a comunidade onde pertence. Mas quando chega a alto mar, olha para o Sol, para as nuvens, brinca com a água, diverte-se com os peixes que vêm à superfície… Distrai-se e procura divertir-se. Mas esqueceu o fundamental: da sua missão, o que realmente foi fazer em alto-mar e da confiança depositada em si.

 

Assim vive uma parte dos Seres Humanos, esquecidos da sua missão de vida, do que se comprometeram a vir fazer à Terra, da confiança depositada em si pela Vida, por Deus, pelos amigos e mestres dos planos espirituais.

Muitos, sem ligarem muito ou mesmo nada às questões espirituais e existenciais, por algum motivo ou motivos, têm a “sorte” de, mais ou menos ingenuamente, cumprirem o seu contrato com o Alto. Fazem as escolhas certas, elegem metas de vida construtivas, edificadoras, e sem “Deus” no pensamento acertam realmente nas coisas que fazem na Vida. Mas muitos não!

 

O estudo da espiritualidade e das potencialidades do Ser Humano passa ao lado de muitos, de demasiados talvez. Muitos passam pela Vida sem explorar algumas das múltiplas potencialidades que Ela tem para oferecer.

Com o passar dos anos, vem a tão temida velhice, para quem, por falta de vontade, oportunidade, capacidade, ou ainda como agora está na moda, por “falta de tempo”, não soube viver a Vida na sua plenitude. E nalguns casos, começam agora a faltar as forças para aprender a viver…

Parece já ser tarde demais para alguns, embora raramente de facto o seja. Muitas vezes, é mais uma desculpa…

Entretanto, existem aquelas pessoas que não conseguem fugir de si próprias. Por algum motivo, a Vida não lhes deu essa “liberdade”. Existem muitas pessoas que desde muito novas são “forçadas” a questionar o mundo em que vivem, porque são “diferentes”, o “porquê da Vida e da existência humana”, o “porquê do sofrimento incluindo o seu”. Dos muitos a quem isso acontece, segundo a moderna ciência médica, uma parte dessas pessoas tem algum tipo de “patologia mental” que a medicina raramente consegue compreender e tratar de forma satisfatória.

 

Dos inúmeros diagnósticos médicos possíveis relativamente a doenças mentais, é o diagnóstico de psicose ou Esquizofrenia aquele que é considerado um dos mais graves. Como se verá ao longo deste trabalho, das chamadas “doenças mentais”, é provavelmente a Esquizofrenia a perturbação que mais pode abalar a estrutura de convicções do indivíduo, no que diz respeito a todo o tipo de questões existenciais e espirituais. É um caminho que se pode revelar duro de percorrer, que pode ser muito perigoso. Tanto pode levar ao “inferno” do sofrimento e da loucura, como aos píncaros da felicidade e auto-realização espiritual. Onde o louco se perde o sábio se edifica.

Enquanto muitos esquizofrénicos sofrem por passar por experiências que não compreendem, muitas pessoas, que têm exactamente os mesmos sintomas, têm uma vida perfeitamente normal, e quando não mesmo, são verdadeiramente felizes, algo cada vez mais raro de ver neste mundo…

É objectivo deste trabalho ajudar a compreender o que vulgarmente se designa por “Esquizofrenia”. Em inúmeros casos, não se trata do “monstro papão” que muitas pessoas pensam, desde que seja devidamente compreendida e acompanhada.

Este trabalho não tem a presunção de revelar nada de novo, nada que já não se saiba ou esteja escrito algures. Visa apenas oferecer um modesto contributo, uma partilha de ideias, fruto de anos de investigação, síntese de ideias com diferentes origens, experiência pessoal na área clínica e espiritual, e lidação com pessoas diagnosticadas ou passíveis de serem diagnosticadas com o quadro de Esquizofrenia segundo os critérios da moderna psiquiatria.

Este é um livro que trata de sofrimento. E por vezes de muito sofrimento. Mas acima de tudo, é uma mensagem de Esperança. E isso sim, é o principal. Fazemos votos para que o leitor entenda que ESPERANÇA é o “pano de fundo” principal desta obra.

 

Este trabalho trata de vários assuntos por vezes ingenuamente temidos por muitos. Outros ainda, evitam-nos porque têm algum tipo de convicção interior que esses assuntos tocam a todos, em maior ou menor grau. E de facto, quando se trata de questões espirituais e morais, quer lhes apeteça quer não, tocam efectivamente a todos. Mas muitos preferem fazer como a avestruz: enterram a cabeça na areia e “não querem ver”. Até um dia…

Quando a doença, a dor, e finalmente a morte do corpo lhes “bater à porta” e readquirirem a liberdade espiritual natural, não conseguirão mais fugir nem de si nem de todas as verdades fundamentais que orientam e disciplinam a existência humana. Entretanto, muitos recursos e oportunidades de crescimento já podem ter sido desperdiçadas.

 

O sofrimento existe. Tem sempre uma causa e certamente uma solução. Dizem todos os grandes Mestres Espirituais que Deus, em Sua Divina Bondade e Misericórdia, colocou ao lado de cada dor um bálsamo que suaviza e faz despertar de novo a Esperança. Muitas vezes o Homem sabe qual o bálsamo a tomar e a lição a aprender. Mas por vezes recusa esse bálsamo. Outras ainda, tem dificuldades em descobri-lo.

Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertaráJoão 8, 32

Fazemos votos que este trabalho ajude, principalmente quem mais precisa, a encontrar algum tipo de bálsamo que esteja a faltar na sua vida e que suavize algum do seu sofrimento. Foi principalmente a pensar nessas pessoas que este livro foi escrito.

O leitor fica desde já prevenido que alguns assuntos poderão ser alvo de discussão e desacordo. Quanto a nós, as discussões que fiquem para os “sábios”. O que nos move é procurar ajudar aquelas pessoas que já não têm mais tempo nem “cabeça” para “conversa” ou “discussões teóricas”, porque o que precisam é urgentemente de respostas e soluções para a sua vida.

 

José Alberto Matos

Rinchoa, 28 de Agosto de 2007

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